quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os Imperdoáveis (1992) por Fernando K.

» Título Original: Unforgiven, 1992

» Direção: Clint Eastwood

» Roteiro: David Webb

» Gênero: Drama/Faroeste

» Origem: Estado
s Unidos

» Duração: 131 minutos

» Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=FybS1XFPZ20

Na época em que foi lançado, o faroeste estava enterrado apenas na parte da superfície do solo, esperando que alguém desenterrasse e reascendesse a chama desse tão aclamado gênero. E foi Clint Eastwood o responsável por dirigir e produzir uma obra capaz de cativar o espectador e torná-lo no ano seguinte merecedor do tão cobiçado Oscar de Melhor Filme. Não seria justo dizer que "Os Imperdoáveis" foi responsável pelo renascimento dos westerns, pois estaria menosprezando os filmes que o antecedem. Pode-se apenas classificá-lo como um longa que contribuiu de forma significativa para o cinema norte-americano.

A história se passa no Velho Oeste, onde o famoso pistoleiro William Munny (Clint Eastwood), agora aposentado e criador de porcos, viúvo e com dois filhos pequenos, se depara com uma situação com o qual o faz reviver seu passado de matador. Seria seu último assassinato e ao seu lado estava seu fiel parceiro Ned Logan (Morgan Freeman) e o novato Schofield Kid (Jaimz Woolvett) rumo a pequena cidade de Big Whiskey, onde se oferecia uma recompensa pela morte de dois vaqueiros responsáveis por retalhar o rosto de uma prostituta. A autoridade do lugar fica por conta do destemido xerife e aspirante a carpinteiro Litttle Bill (Gene Hackman) que não tolerará tumulto em sua pacata cidade.

Uma das obras que consagrou o diretor Clint Eastwood lhe rendendo o Oscar de Melhor Filme e Diretor pode ser classificada como um dos seus principais trabalhos. Seguindo os passos dos diretores John Ford, Don Siegel e principalmente de seu mentor Sergio Leone com o qual trabalhara em filmes anteriores, Eastwood (na opinião de muitos críticos e cinéfilos) estaria atingindo o clímax de sua carreira neste notável longa. No entanto, este seria apenas o primeiro de seus trabalhos mais marcantes como diretor, podendo-se destacar de forma consecutiva os brilhantes filmes: "As Pontes de Madison" (1995), "Sobre Meninos e Lobos" (2003), o memorável "Menina de Ouro" (2004) e o melhor filme do primeiro semestre de 2009 (minha opinião), "Gran Torino".

O cineasta procurou retratar a obra de forma mais madura, humana e principalmente realista. O foco do filme fica centrado em um personagem sem destaque e que mesmo assim foi fundamental para o entendimento do que Eastwood planejara transmitir ao público. Trata-se do escritor W.W. Beauchamp (Saul Rubinek) e é através dele que a história relata que o mundo do Velho Oeste não existem heróis e donzelas, mas sim, vigaristas ordinários que se preocupavam apenas com o seu bem-estar e prostitutas que buscavam uma vida melhor para si. Fica claro então que Beauchamp é ninguém menos que a própria Hollywood, uma entidade que torna o mundo real em algo fictício e transforma bandidos em heróis com moral indiscutível e boa índole onde estariam sempre defendendo os fracos e os oprimidos e com um romantismo capaz de fazer até o mais durão dos durões chorar. E fica evidente a genialidade deste senil de quase oitenta anos ao mostrar a mais dura realidade, desbancando os clichês do heroísmo, romantismo e o final feliz, ou seja, o mundo exagerado e totalmente enfeitado criado por Hollywood, sendo essa a principal mensagem que o cineasta nos proporciona ao longo dos pouco mais de 130 minutos de filme.

O elenco é de primeira mão. Temos o próprio Eastwood em uma das suas mais marcantes atuações com o qual soube transmitir a melancolia exigida por seu personagem Will devido a morte de sua esposa Claudia (razão de seu viver). Gene Hackman, que ganhou seu segundo Oscar com o papel de coadjuvante do marcante xerife Little Bill (o primeiro foi como Melhor Ator com "Operação França" 1971). Vale lembrar que Hackman não aceitara o papel a princípio, mas acabou interpretando devido a insistência do diretor/ator Clint Eastwood. Morgan Freeman, sempre se saindo bem em todos os filmes em que participa e sempre ganha um brilho a mais ao lado de Eastwood (parceiros em "Menina de Ouro" 2004 e do ainda produzido "Invictus" 2009). Quem teve participação especial neste longa foi Richard Harris no papel do English Bob e que faleceu em 2002. Harris ficou marcado por interpretar o Dumbledore de "Harry Potter" e também o Marcus Aurelius de "Gladiador", 2000 de Ridley Scott. Dos demais atores, temos Jaims Hoovett como destaque na pele de Schofield Kid, também se saindo muito bem.

"Os Imperdoáveis" é recheada de detalhes que são fundamentais para chegarmos às nossas devidas conclusões. Tais como a forma satírica que Eastwood impõe ao anti-herói Will, ou seja, quando Schofield chega a sua casa, se depara com um velho descoordenado levando vários tombos correndo atrás de seus porcos doentes, deixando o aspirante a matador confuso, já que a imagem que tinha sobre ele era um matador a sangue-frio. Depois vemos o mesmo Will Munny errando vários tiros na pequena lata 30m a sua frente. E na cena seguinte, o aposentado assassino novamente caindo vários tombos na tentativa de montar em seu cavalo. O detalhe principal fica mais a frente quando Will fica doente e acaba se rastejando para fora do bar, negando totalmente e tirando sarro da imagem dos velhos heróis durões no qual Eastwood imortalizara nos westerns entre as década de 1960 e 1970.

Pode-se classificar a obra como um anti-western, onde não há heróis e donzelas, apenas assassinos, pessoas ordinárias e prostitutas buscando algum respeito. Mesmo o xerife Little Bill e o protagonista William Munny podem ser considerados como antagonistas com as mãos manchadas de sangue em um cenário feio, sujo e repleto de bêbados e mulheres que vendem o corpo por dinheiro. E assim descreve-se o Velho Oeste. Até mesmo a chuva faz parte desse mundo realista, pois nota-se uma certa melancolia nas cenas chuvosas. No entanto, o filme não rompe totalmente com o gênero, onde temos Jack N. Green com uma fotografia magnífica aproveitando-se da paisagem desolada do deserto. Também há o confronto de Will e Little Bill mantendo as tradições do faroeste clássico, embora mostrando de forma mais cruel e realista.

Os créditos também ficam por conta do roteirista David Webb. Embora os diálogos às vezes se mostrassem simples demais, Webb soube se impôr e contribuiu significativamente para que o longa se tornasse uma obra-prima adicionada a um roteiro de alta qualidade. Uma das cenas mais marcantes seria aquela em que English Bob sai da barbearia e se depara com Little Bill e seus ajudantes frente ao local armados até os dentes. Nota-se a angulação em que os personagens são captados, onde há uma bandeira dos Estados Unidos suspensa atrás do xerife, em seguida o mesmo se aproxima e fica na mesma altura de Bob, cara a cara e o foco de uma das câmeras fica diante de Bob (de costas) e Bill de frente, sendo que o primeiro diz: "Bom.. boa tarde senhores" se vira para a câmera focando sua feição de decepção e raiva quando o xerife fala: "entregue a 32, Bob". Em outras palavras, uma cena detalhada muito bem feita. Eastwood já fica marcado por sua trilha sonora suave com o qual utiliza com total frequência em seus longas, mas é algo que não deixa o filme enjoativo, muito pelo contrário, apenas acrescenta qualidade.

Muito Bom!

Premiações

- Ganhou 4 Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman) e Melhor Montagem. Foi ainda indicado em outras 5 categorias: Melhor Ator (Clint Eastwood), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Som.

- Ganhou 2 Globos de Ouro: Melhor Ator em Drama (Clint Eastwood) e Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman), além de ter sido indicado nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Roteiro.

Curiosidades

- O roteiro de Os Imperdoáveis durante 20 anos ficou rodando de mão em mão em Hollywood, à espera de alguém que resolvesse filmá-lo.

- Após ler o roteiro, Gene Hackman recusou o papel do xerife Little Bill Daggett, apenas voltando atrás devido à insistência de Clint Eastwood, que fazia questão em tê-lo no papel.

Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/imperdoaveis/imperdoaveis.asp

DVD

O filme de Eastwood está disponível no Brasil em duas edições. A primeira, convencional, contém apenas o filme, com qualidade de imagem e som razoável. A segunda edição é especial, e ainda por cima dupla, recheada com quatro documentários e cópia remasterizada do filme. O disco 1 contém exatamente o longa-metragem, com qualidade impecável de imagem (original, widescreen) e som (Dolby Digital 5.1, com surround funcionando em alto volume nas cenas envolvendo tiros e/ou trovoadas). Um comentário em áudio do crítico Richard Schickel completa o disco.

O disco 2 tem quatro documentários. O primeiro (22 minutos) foi feito em 2002, por ocasião do aniversário de 10 anos do filme, e apresenta entrevistas com Eastwood, Freeman, Hackman e diversos membros da equipe. O segundo (23 minutos) foi feito na época das filmagens. O terceiro (16 minutos) enfoca a carreira de Eastwood. O último e mais longo (60 minutos) é um mergulho mais fundo na vida e na carreira do diretor. Como brinde, o espectador ganha ainda um antigo episódio de 1959 da série de faroeste “Maverick”, que contém a primeiríssima performance do jovem Eastwood, em papel coadjuvante. Uma caixa impecável.

Fonte: http://www.cinereporter.com.br

Por Fernando K.

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