Especial Oscar por Fernando K.

Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2008)


Vencedor do Oscar por Melhor Filme, Diretor, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante.


» Direção: Ethan e Joel Cohen

» Roteiro: Irmãos Cohen (roteiro), Cormac McCarthy (romance)

» Gênero: Drama/Suspense

» Origem : Estados Unidos

» Duração: 122 minutos

» Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=vU2gUn9_0HE

Llewelys Moss (Josh Brolin), homem comum e veterano de guerra, encontra valise recheada de dinheiro, resultado de uma negociação de drogas frustrada. É enviado então, um assassino sangue-frio chamado Anton Chigurh (Javier Bordem) em seu encalço. No meio dessa história, temos o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) tentando conter esse violento confronto.

O obra escrita por Comac McCarthy foi adaptada pelos irmãos Cohen de forma admirável. Souberam comandar o longa com limpidez e deixaram claro suas características: a impudência e o toque de sarcasmo. Seja no modo como Llewelys encontra o dinheiro, a ingenuidade do personagem Wendell ou o posicionamento da câmera durante o primeiro assassinato de Chigurh, todos esses detalhes nos relatam a assinatura desses dois diretores. Foram responsáveis também pela produção juntamente com Scott Rudin, o roteiro baseado no romance de McCarthy e a edição do filme. Destaque para a personalização de sotaques dos atores, dando um ar a mais de vivacidade para o enredo e a ausência da trilha sonora em momentos de tensão da trama.

Os diálogos são memoráveis, é importante salientar duas cenas: a que Ed Tom está conversando com Carla Jean e lhe conta uma história sobre um conhecido que acabou se ferindo ao tentar sacrificar um gado. Nessa história, o xerife nos faz refletir sobre o ponto essencial: nem em uma disputa entre homem e gado, pode-se ter certeza do final que isso vai tomar. A outra, seria o encontro entre Chigurh e o dono do pequeno armazém na beira da estrada, onde a vida do ultimo é decida em um simples jogo de cara-ou-coroa (detalhe: sem nenhuma razão) e sem que o objetivo do mesmo seja explicito por ambos.

Ed Tom, o núcleo da trama, seria o personagem-chave para nos levar a compreender o enredo. Embora não haja um envolvimento direto entre o xerife e os dois personagens principais, o veterano da lei se mostra estar sempre um passo a frente deles por já ter passado por tudo isso outras vezes e não se mostra surpreso com nada daquilo e ao mesmo tempo também, ele estaria um passo atrás por não conseguir anteceder as ações de Chigurh e Llewelys. Tommy Lee Jones teve uma atuação plena e satisfatória. Soube dar ao personagem toda essa carga emocional exigida pelo mesmo. O olhar confuso e nostálgico em algumas cenas exemplifica tudo isso, ou seja, atordoado com toda aquela matança desenfreada e a mudança vagarosa do tempo no qual desencadeia toda essa violência banal que ocorre.

Javie Bordem foi estupendo na pela de Anton Chigurh. Embora praticamente inexpressivo, o ator soube interpretar exatamente como os irmãos Cohen almejavam e ficaria difícil imaginar outro ator encarnando-o com tanta precisão. Mesmo sendo um matador a sangue-frio, o mesmo demostrava um toque de humor e transmitia sarcasmo com as matanças ao decorrer do longa, destacando a notoriedade dos diretores. O jeito metódico, altruísta e direto do personagem, deu aquele charme necessário. Sem contar com aquele corte de cabelo "diferenciado" e a arma de ar comprimido junta a um cilindro utilizado por ele, dando uma personificação um tanto satírica que o denominava como uma pessoa nada comum. Em outras palavras, pode-se dizer que tendo uma corrida como referência, Os Cohen deram o melhor carro a um dos melhores pilotos (Bordem), rendendo-lhe o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA de melhor ator coadjuvante em 2008.

Josh Brolin definitivamente não a primeira escolha dos irmãos para o filme. Assim como Jones, teve uma interpretação plena e satisfatória, embora em alguns aspectos até inferior que o dito anterior. Nada a se destacar, assim como os demais papéis feitos pelo ator (talvez em "Milk" tenha se saído melhor, ainda não assisti). Woody Harrelson que teve uma atuação brilhante em "Sete Vidas", participa vagamente no longa, mas o suficiente para acrescentar, tendo um momento fantástico na cena em que toda sua soberba e autoconfiança se esfacelam diante do inevitável.

Sinceramente, o final vaga não me agrada. Admito que não vejo um fim mais adequado, mas não há satisfação de minha parte em relação a tal. O longa também contém alguns erros, tais como o fato de Llewelys voltar em plena madrugada ao local da chacina para um desencargo de consciência, o que estaria fora de cogitação. Neste caso, o roteiro estaria empurrando uma ação que levaria a outra. Sem contar que o mesmo, fora caçar em pleno deserto durante o dia, levando consigo apenas uma arma, em outras palavras: sem água.

O modo como foi reiterado o tema chave neste longa nos motra a genialidade dos irmãos Cohen. A mensagem explicita da trama foi transmitida para os espectadores de forma singular, nos fazendo refletir e nos acordando para desatarmos dessa ação desenfreada chamada violência. "Onde os Fracos Não Têm Vez" é um filme altamente recomendado, assista como calma, pois a trama é simplesmente brilhante.

NOTA: 9,0

Por Fernando K.

Curiosidades

- O título original é baseado no poema "Sailing to Byzantium", de W.B. Yeats;
- Heath Ledger chegou a negociar sua participação no filme, mas decidiu abrir mão dele para poder descansar um pouco;
- Segundo Jones, os irmãos Cohen queriam rodar o filme inteiramente no Novo México, devido aos impostos do estado, mas ele os convenceu a realizarem as filmagens no Texas;
- Os irmãos Ethan e Joel Cohen assinaram a edição sob o pseudônimo Roderick Jaynes.

Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/onde-os-fracos-nao-tem-vez/onde-os-fracos-nao-tem-vez.asp