quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sinédoque, Nova York (2008) por Fernando K.

Escrito e dirigido por Charles Kaufman em mais uma obra caracterizada pela originalidade, "Sinédoque, Nova York" traz agora Philip Seymour Hoffman no papel de mais um incoerente protagonista com o qual interpreta com plenitude. Destacando que o ator é um dos melhores da atualidade (minha opinião), ele se torna peça essencial para que a trama decorra bem.



Inspirada em seus roteiros anteriores "Quero Ser John Malkovich", "Adaptação" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" vemos aqui também um universo misterioso/enigmático e bizarro onde há a mistura do real com o abstrato, repleta de extragância e assuntos que se resumem ao que vivemos hoje. Em outras palavras, ninguém mais indicado a dirigir este filme do que o próprio Kaufman.

O tempo passa de forma desvairada. Percebe-se pelo jornal que Caden lê toda manhã antes de checar o obituário. A princípio é setembro e no outro dia já é outubro. O leite estragado também faz parte dessa passagem do tempo indicando que mais alguns dia se foram. Com o passar da história, o teatrólogo deprimido novamente está com seu jornal matutino e percebemos que já é maio do ano seguinte e em um piscar de olhos já se passam dezessete anos. E assim, Caden vive sua vida sem ter noção do tempo e depois de quase vinte anos, sua peça ainda não estreiou. Com muitos ensaios e encenações, tudo fica apenas nisso e o diretor de teatro implementa sua vida passada e o que vive no presente transformando a trama em uma "realidade fictícia", sem sabermos diferenciar o que é real ou não, na expectativa de que possa deixar sua marca antes de sua morte.

O espectador pode ficar confuso com tanta incoerência adicionada a essa "realidade fictícia", onde se vê uma casa sempre em chamas, cocôs verdes e cinzas, tanques de guerra e pessoas com máscaras de gás e entre outras coisas. Mas embora pareça um pouco abstrato, tudo é fruto de uma metáfora do que vivenciamos em nossas vidas, nos tornando ególotras sem nos preocuparmos com o que se passa em volta, antecipando a morte e não aproveitando os momentos importantes da vida.

Enfim, conclui-se com o enredo que a vida se resume a encenações e ao próprio tempo, sem podermos defini-la com uma única palavra ou frase, por isso vemos Caden ensaindo e ensaiando sem que chegue o dia da estréia ou ele sempre tentando adquirir um nome a sua obra e fracassando. Kaufman se superou em mais um roteiro original, mas se perdeu um pouco na direção sem saber dosar sua ansiedade e a transmitindo notoriamente. Mesmo assim, ainda o vejo como o mais indicado a dirigir seu próprio roteiro, pois não é fácil para qualquer diretor transpor exatamente o que o roteirista deseja. Recomendo para aqueles que admiram de fato a sétima arte e para quem busca entretenimento, assista "As Branquelas" ou qualquer outro filme do gênero.

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